Em Portugal, a saúde mental infantil tem as suas fundações bem alicerçadas. Contudo, é reconhecido que existe ainda algum caminho a percorrer.
Atualmente, a abordagem à saúde mental infantil é feita de modo preventivo, inserida num contexto global da saúde das crianças.
O trabalho deve ser realizado por equipas profissionais multidisciplinares, mas pais e mães cumprem um papel fundamental.
O que é a saúde mental e qual a sua importância?
A saúde mental infantil é definida nos mesmos moldes que a saúde mental nos adultos. É a base para uma perceção de bem-estar mental e geral.
Quando a sabedoria popular se desdobra em expressões como “mente sã, corpo são” validam isso mesmo: não há saúde, sem saúde mental. Aliás, muitos médicos definem mesmo que a saúde é mais do que a ausência de doença, demonstrando, na prática, a importância da saúde mental infantil em geral.
A saúde mental infantil, embora muitas vezes colocada de parte, não é uma questão ligeira. Bem pelo contrário. A sua importância torna-se evidente perante as capacidades que oferece a todos nós de a enfrentar.
Uma mente sã significa ter a capacidade para:
- Adaptar-se a novas circunstâncias;
- Superar crises ou resolver conflitos emocionais;
- Reconhecer os seus próprios limites;
- Reconhecer os primeiros sintomas de mal-estar;
- Criticar construtivamente a realidade;
- Ter sentido de humor, criatividade e até sonhar;
- Estabelecer relações sociais positivas e produtivas;
- Desenhar projetos de vida.
Muitas destas capacidades começam-se a desenvolver ao longo dos primeiros anos de vida. Por isso mesmo, é extremamente importante saber como abordar o tema da saúde mental infantil dentro de casa.
Até porque, tal como diz a famosa expressão popular: “de pequenino é que se torce o pepino!”
Perturbações mentais em Portugal
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, estima-se que cerca de 20% das crianças e adolescentes possam apresentar um tipo de perturbação mental. Algumas destas perturbações podem tornar-se crónicas e constantes ao longo da vida.
Neste ponto, importa clarificar o que se entende por perturbações ou problemas de saúde mental infantil, embora possam ocorrer em qualquer idade. Em Portugal, os mais frequentes são:
- Ansiedade;
- Mal-estar psicológico (demasiado stress);
- Depressão;
- Dependências (álcool e outras drogas);
- Perturbações psicóticas, como a esquizofrenia;
- Deficiência Intelectual.
Destas, a depressão é a mais frequente. Contudo, a maioria pode ser despoletada por alterações profundas que possam causar um impacto na saúde psicológica infantil, tais como são a perda de um familiar ou o divórcio dos pais, mas também outras, tais como a entrada na escola ou a adolescência.
É particularmente nestes momentos que os pais podem cumprir um papel essencial. O primeiro passo é estarem atentos aos potenciais sintomas de uma saúde mental infantil menos resiliente.
Sintomas de distúrbios mentais infantis
Os primeiros sintomas de distúrbios mentais infantis tendem a ser muito subtis. Por outras palavras, a saúde mental nas crianças tende a aumentar ou a diminuir de forma gradual.
A título de exemplo, pode ocorrer que a criança sinta uma falta de vontade repentina de ir um dia à escola. Mas quando esses dias se começam a amontoar, pode ser um sintoma de algo que pode estar a interferir com a sua saúde mental.
Do mesmo modo, é diferente testemunhar-se um dia em que a criança se encontra mais triste, por qualquer motivo, do que uma tristeza aparentemente constante.
Assim sendo, é importante que pais e mães se mantenham atentos acerca da saúde mental dos seus pequenos. Para vigiar a sanidade mental infantil, procure por sinais de:
- Agressividade;
- Alterações no apetite ou hábitos de sono;
- Apatia generalizada;
- Falta de vontade (para ir à escola ou para ações outrora felizes);
- Irritabilidade;
- Nervosismo;
- Pesadelos frequentes;
- Queda no desempenho escolar;
- Timidez excessiva;
- Tristeza aparentemente constante.
Estes são apenas alguns sinais aos quais deve prestar atenção acerca da saúde mental infantil. Mesmo assim, lembre-se que ninguém conhece melhor os seus filhos do que você e todas as alterações de comportamento são importantes para o seu desenvolvimento.
No caso de sentir ou suspeitar que os seus filhos possam estar a enfrentar algum tipo de problemas relacionado com a saúde mental, analise a situação com calma.
Muitas vezes, pode até tratar-se de um problema de expressão dos mais pequenos. Contudo, sempre que considerar ser necessário não hesite em contactar um médico especialista na área.
Como cuidar da saúde mental das crianças?
Do lado dos pais existem algumas boas práticas a ter em mente quando se trata de cuidar da saúde mental das crianças.
Em primeiro lugar, é importante deixar que se expressem da melhor forma que souberem ou conseguirem. Para isso, comece por dar espaço à saúde mental, dando espaço para a expressão e o diálogo.
Ao mesmo tempo, evite sobrecarregá-los. Parecendo que não, a verdade é que o dia-a-dia das crianças é bastante completo. Está cheio de atividades! Não raramente, estas podem tornar-se uma obrigação.
Aliás, o mesmo acontece com os adultos, não é? Neste caso, a saúde mental infantil mantém-se da mesma forma: tempo livre é tempo livre – é para fazermos o que quisermos.
Não menos importante para a saúde mental infantil está a ideia de confiança dentro do círculo familiar.
Também neste campo as crianças são mais perspicazes do que aparentam e, quando algo não está bem, elas sentem-no.
Por isso, seja um acontecimento familiar ou um fator externo de grande magnitude que possa ter um efeito direto nas suas vidas, é importante que exista uma conversa cuidada sobre o assunto, dentro do possível.
Quando tal não acontece de forma consistente, os níveis de saúde mental infantil podem decrescer, levando os mais pequenos a desenvolverem sentimentos como a culpa ou a solidão.
A importância da socialização
A socialização é um dos aspetos fundamentais não só para a saúde mental infantil como para o desenvolvimento da criança enquanto cidadã. Ao longo dos primeiros anos de vida, esta socialização começa por ter lugar na escola.
Mas é em casa que se criam as bases para o seu sucesso.
Assim, cuide da saúde mental dos seus filhos ao promover a socialização e o sentimento de pertença em casa. Para isso, invista em tempo de qualidade com eles: brincando, lendo, passeando ou conversando.
Como conversar sobre saúde mental infantil?
Até aqui, temos vindo a enfatizar a importância do diálogo entre pais e filhos acerca da saúde mental infantil. Contudo, muitas vezes isto é muito mais fácil de ler ou escrever do que propriamente falar.
Por sorte, a Unicef desenvolveu um pequeno guia sobre como conversar sobre saúde mental com os mais pequenos. Partilhamos consigo aqui os pontos fundamentais, divididos por fases de crescimento.
Saúde mental infantil – dos primeiros meses até aos cinco anos
Nesta fase, as crianças olham para si em busca de amor, conhecimento e segurança:
- Brinque;
- Converse;
- Leia-lhes, sempre que possível;
- Explore o espaço exterior;
- Convide a participar em tarefas simples das lides da casa;
- Estimule a interação social.
Saúde mental infantil – dos seis aos dez anos
Esta é uma fase crítica para a criação de confiança, cheia de episódios que lhes alteram a vida por completo, incluindo os primeiros dias de aulas e a criação de novas amizades.
Mantenha a saúde mental infantil ao conversar com eles sobre tudo isto e utilize os momentos positivos e negativos para avaliar o seu estado emocional e aprofundar a relação.
À medida que vão crescendo, procure saber mais sobre o que sentem ou pensam, sempre que a altura for a mais apropriada. Lembre-se de lhes demonstrar amor, afeto e compreensão e de enfrentarem dúvidas ou problemas em conjunto.
Saúde mental infantil – dos 11 aos 13 anos
Há também quem chame a esta fase a “idade do armário”. Na prática, esta é uma fase na qual existem grande alterações físicas e emocionais que se manifestam muito rapidamente.
Nesta idade, cuidar da saúde mental infantil é um processo complexo. Por isso, faça-o sem pressões ou expetativas, mantendo uma linha de comunicação aberta, direta e honesta.
Oiça o que eles têm para dizer e procure oferecer soluções, evitando entrar em discussões sobre o assunto.
Se não encontrar uma solução, pergunte como pode ajudar. Nesta fase, a paciência é mesmo a chave. E se precisar de quebrar o gelo, é mais fácil iniciar um diálogo quando se encontram ocupados noutra atividade como, por exemplo, a fazer o jantar ou a arrumar o quarto.
Saúde mental infantil – dos 14 aos 18 anos
À medida em que se aproximam da idade adulta, uma saúde mental infantil reduzida pode associar-se diretamente a outro tipo de problemas (a dependências, por exemplo) que os jovens depois carregam consigo.
Perguntar “como correu o dia” e desenvolver o diálogo de forma clara são duas dicas essenciais.
Do mesmo modo, pergunte-lhes pelas opiniões acerca dos mais diversos assuntos. Nos casos mais graves, seja o mais gentil possível e procure assegurar-lhes de que estará sempre ali para eles.
Por último, lembre-se também do seguinte: a saúde mental infantil é tão importante como a sua.
Sempre que puder, tome conta de si e da sua própria saúde mental. Só assim terá espaço para ajudar o próximo.
Referências:
1. https://www.publico.pt/2019/10/14/sociedade/opiniao/saude-mental-infantil-quase-indiferenca-decadas-1889730
2. https://www.adeb.pt/pages/o-que-e-a-saude-mental
3. https://hospitalsantamonica.com.br/dia-das-criancas-como-cuidar-da-saude-mental-dos-pequenos/
4. https://www.unicef.org/mental-health-on-my-mind
5. https://www.dgs.pt/paginas-de-sistema/saude-de-a-a-z/programa-nacional-para-a-saude-mental/perguntas-e-respostas.aspx
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