Já ouviu falar de síndrome de tourette? Aparece durante a infância ou adolescência e dura até à fase adulta. Na maioria dos casos condiciona substancialmente a vida das crianças e dos adolescentes, que acabam inevitavelmente por sofrer de estigma social. Em casos mais severos chega a levar ao internamento dos adolescentes, em instalações hospitalares.

A síndrome de Tourette é uma disfunção que afeta cerca de 2,9% da população4 e é 3 vezes mais frequente nos meninos.6 

 

 O que é o Síndrome de Tourette?

A síndrome de Tourette (ST) é uma perturbação neuropsiquiátrica rara, caraterizada pela presença de tiques motores e vocais alternados. Inicia-se habitualmente na infância com tiques simples, que com o passar do tempo ganham intensidade e tornam-se severos.

Segundo a Associação de Psiquiatria Americana (APA), para diagnosticar a criança com síndrome de Tourette há que ter como critérios1:

  • Manifestação da doença antes dos 18 anos de idade;
  • A criança deve revelar múltiplos tiques motores e um ou mais tiques vocais, no mínimo durante um ano;
  • Tiques constantes, podendo estes ser simples ou mais complexos, acompanhados de ataques. Os tiques têm de ser contínuos no tempo, não podendo haver um período superior a 3 meses sem tiques;
  • Sofrimento ou exclusão social e profissional causada pela inadequação ou difícil comprimento de tarefas, derivado da doença.

A síndrome está também associada a outros problemas do foro neurológico/psicológico, como ansiedade, depressão, transtorno do défice de atenção e hiperatividade (TDAH), e transtorno obsessivo-compulsivo.

 

Tiques em crianças

Os tiques são movimentos involuntários, súbitos e recorrentes, e podem ser motores ou vocais. Estes movimentos abruptos e breves, quando mais complexos, condicionam a vida da criança ou adolescente, incapacitando-a de concentrar-se ou efetuar tarefas.

São exemplos de tiques motores:

  • Piscar repetidamente os olhos;
  • Fazer caretas;
  • Mover a cabeça de um lado para o outro;
  • Tossir, pigarrear, fungar ou cuspir;
  • Encolher ou sacudir os ombros;
  • Esticar os braços, estalar os dedos, bater palmas ou fazer outros movimentos com os braços e as mãos;
  • Chutar, saltar, rodar, torcer-se ou fazer outros movimentos com os pés e as pernas.

Como tiques vocais a criança pode:

  • Imitar sons de animais;
  • Dizer frases fora do contexto ou gritar palavras obscenas subitamente (coprolalia);7
  • Fazer gestos obscenos;
  • Gritar, gemer, assobiar, grunhir ou emitir outros sons.

Os tiques vocais podem surgir cerca de 1 a 2 anos depois dos motores.7
Temudo, 2019

Segundo a Sociedade Portuguesa de Neuropediatria, “A evolução dos sintomas pode ser transitória ou crónica. Habitualmente os tiques motores e vocais mudam de frequência, evoluem em complexidade e podem intercalar entre períodos de maior ou menor intensidade.”7 

Tiques em crianças

O que causa tiques?

As causas da síndrome de Tourette não são totalmente conhecidas. Estudos científicos sugerem a existência de uma componente genética e de anomalias em neurotransmissores cerebrais, designadamente na dopamina. Os tiques pioram com situações de stresse e cansaço.

Estudos indicam que a criança adquire tiques pela primeira vez entre os 5 e os 10 anos, e tornam-se mais pronunciados entre os 10 e 13 anos de idade. Podem ser classificados como motores e vocais, e ainda, podem-se subdividir entre simples e complexos.4

Os tiques menos profundos envolvem músculos ou sons simples, os tiques complexos implicam vários membros, como pernas e braços simultaneamente, e palavras ou frases.2

As palavras ou frases saem espontaneamente no meio dos diálogos e são impossíveis de evitar, tornam-se mais incontroláveis e intensas quando a criança está a passar por uma situação de pressão, ansiedade ou excitação. Por outro lado, têm tendência a diminuir quando a criança encontra-se a fazer atividades como andar no gelo, cantar ou dançar.

 

Tiques nervosos

O tique nervoso infantil é habitual de acontecer ao longo do crescimento da criança e nem sempre deriva de estados psicológicos. Ou seja, as crianças podem ou não ter tiques derivados de stress ou de ansiedade. Muitas vezes o tique é uma manifestação normal do neurodesenvolvimento e não está relacionado com a síndrome de Tourette. 10% das crianças, presentes na população em geral, apresentam tiques em alguma fase da vida.4

No entanto, também há tiques que se iniciam em fase juvenil e ao longo do crescimento da criança evoluem de intensidade. Se este for o caso do seu filho, se verificar um aumento de tiques, procure ajuda médica para que o diagnóstico seja feito num estágio inicial.

(…) altos níveis de estresse podem funcionar como gatilhos para o aumento da frequência e da gravidade dos tiques.8
Terra e Rodina, 2011

 

Tiques motores

O tique motor é uma contração do músculo e pode ser subcategorizado em simples ou complexo. É visto como simples quando envolve movimentos abruptos, repentinos e sem propósito. Já os tiques complexos são qualificados como lentos, diversificados e envolvem vários grupos musculares.

Tiques motores simples

  • Piscar os olhos;
  • Torcer o nariz;
  • Movimentar a boca;
  • Levantar as sobrancelhas;
  • Encolher os ombros;
  • Sacudir a cabeça e o pescoço.

Tiques motores complexos

  • Fazer caretas;
  • Tocar;
  • Bater;
  • Saltar;
  • Chutar;
  • Andar num padrão específico.

As crianças com síndrome de Tourette podem até imitar nos seus tiques, gestos, sons ou palavras executados por outas pessoas, sejam eles comuns ou obscenos.3 

 

Tiques vocais

Os tiques vocais, tal como os motores, também podem ser simples ou complexos. Estes habitualmente aparecem posteriormente aos tiques motores. Dizem-se simples quando correspondem a sons sem significado linguístico e complexos quando são vocalizações com conceitos associados.6

Tiques vocais simples

  • Coçar a garganta;
  • Fungar;
  • Gritar;
  • Bocejar.

Tiques vocais complexos

  • Gritar palavras obscenas;
  • Repetir palavras ou frases;
  • Fazer sons de animais, carros, desenhos animados.
Lidar com crianças com Síndrome de Tourette

Lidar com crianças com Tourette

As crianças com síndrome de Tourette têm noção do comportamento “invulgar”, todavia, a síndrome é descrita pelas mesmas por uma vontade superior e incontrolável de realizar aquela ação. 

Por norma estas crianças são inteligentes, amigáveis e ansiosas por agradar, porém têm dificuldades em relacionarem-se com o outro. A incomum forma da doença se pronunciar faz com que a sociedade coloque de parte estas crianças e não queira manter contacto ou relações de longa duração com o doente. 

A integração dos meninos(as) nas escolas é fundamental para promover a tolerância e o conhecimento acerca da doença. É fundamental que o ambiente frequentado pela criança seja pautado por tolerância, compreensão e flexibilidade para que a mesma tenha mais oportunidade de desenvolver as suas capacidades. 

(…) Colegas terão oportunidade para crescer com uma visão mais realista e menos preconceituosa sobre a vida e sobre a diversidade humana. Para os professores, a inclusão escolar é também entendida como benéfica, pois desafia-os a derrubar barreiras pedagógicas (…)8
Terra e Rodina, 2011

 

Tratamento do Síndrome de Tourette

A criança com síndrome de Tourette terá de viver com a perturbação para o resto da vida, considerando que não há um tratamento que garanta o desaparecimento total dos sintomas. No entanto é possível com distintas terapêuticas atenuar e melhorar alguns dos indícios.

O objetivo do tratamento será garantir as melhores condições possíveis para o desenvolvimento da criança e, complementarmente, que visem a integração social, escolar e, mais tarde, profissional. 

O planeamento terapêutico só poderá ser feito após a observação minuciosa da criança e análise da complexidade dos sintomas. É importante para obter resultados positivos, que a criança tenha apoio familiar e se sinta confiante e segura com a terapêutica. 

As terapêuticas não são consensuais devidos as flutuações na gravidade sintomas, mas todas, numa primeira fase, devem passar pela consciencialização do doente, dos familiares e dos amigos para as caraterísticas da síndrome. 

Diferentes tipos de atuação:5

  • Farmacológico: medicamentos antipsicóticos;
  • Intervenção psicoterapêutica: com acompanhamento em pedopsiquiatria;
  • Neurocirurgia: estimulação cerebral profunda.

 


 

Referências

1. American Psychiatry Association (2002). Diagnostic and statistical manual of mental desorders, 4th edition, text revision (DSM-IV-TR). Washington: American Psychiatric Association.
2. Bezerra Da Silva, E., Bertolino Da Silva, E. e Kalliellanya Bezerra Da Nobrega, N. (2019) A importância da avaliação psicológica nos transtornos de tiques. Centro Universitário Tiradentes.
3. Gomes, E. et al. (2014) Perfil neuropsicológico na Síndrome de Tourette: um estudo de caso, Estudos e Pesquisas em Psicologia, 4(1), pp. 168–181.
4. Isabel Loureiro, N. V et al. (2005) Revisão de Literatura Tourette: por dentro da síndrome Tourette: within the syndrome, Rev. Psiq. Clín, 20 Maio, pp. 218–230. Disponível em: www.ncbi.nlm.nih.gov (Acedido: 14 de Janeiro de 2020).
5. Oliveira, A. e Massano, J. (2012) Síndrome de Gilles de La Tourette: Clínica, Diagnóstico e Abordagem Terapêutica, Arquivos de Medicina, 26(5), pp. 211–217.
6. Prior, A., Tavares, S. e Temudo, T. (2006) Tiques em crianças e adolescentes Revisão teórica e abordagem terapêutica, NASCER E CRESCER, xv(3), pp. 129–132.
7. Temudo, T. (2019) Tiques na criança, Sociedade Portuguesa de Neuropediatria. Disponível em: https://neuropediatria.pt/index.php/pt/para-os-pais/tiques-na-crianca (Acedido: 14 de Janeiro de 2020).
8. Terra, A. P. e Rodina, R. (2011) A interação escolar de uma criança com síndrome de Tourette, de acordo com as percepções de pais e professores: um estudo de caso exporatório, XXIII Congresso de Iniciação Científi ca da UNESP. Marília. 

autor: Bolas de Sabão

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