O puerpério é uma das fases mais relevantes na vida de uma mulher. Inicia-se no dia do nascimento do bebé e termina no momento em que a mulher retoma o ciclo menstrual.
O que é o Puerpério?
Designa-se de puerpério, o período em que o organismo da mulher recupera das modificações provocadas pela gravidez e pelo parto, ou seja, é o momento em que o corpo retorna ao estado pré gravídico.
Fases do Puerpério
- Puerpério imediato: Do 1º ao 10º dia do pós-parto
- Puerpério tardio: Do 11º ao 42º dia do pós-parto
- Puerpério remoto: A partir do 43º dia do pós-parto
- No período puerperal a mãe passa por alterações psico-orgânicas extremas, tendo sentimentos de euforia por ter o bebé;
- Medo de não conseguir amamentar;
- Desconforto físico devido à nova aparência;
- Alívio;
- Ansiedade de não conseguir corresponder as necessidades do recém-nascido;
- Medo de falhar enquanto mãe.
Alterações corporais durante o puerpério
Mamas
No período pós-parto as mulheres sentem desconforto nas regiões que sofreram transformações na gravidez ou que estavam sujeitas a uma pressão outrora constante.
A zona mamária sofre modificações significativas como consequência do processo de amamentação. Para além da habitual sensibilidade mamária, algumas das perturbações mais assumidas pelas mães são:
- Ingurgimento mamário: Retenção anormal do leite;
- Traumas mamilares: Dor na região do mamilo em resultado de uma força desadequada;
- Mastite: Infeção mamária, geralmente unilateral;
As complicações mamárias causam desconforto e levam as mães a querer deixar de amamentar. Se assim for, o médico poderá recomendar como alternativa secar o leite e dar fórmula ao bebé.
Sangramento vaginal
No puerpério, a recém mamã tem perdas de sangue via vaginal, compostas por coágulos e restos placentários, a que se dão o nome de lóquios.
Os lóquios, após o parto, são caraterizados pela sua cor vermelha escura, que ao longo do tempo vai aclarando.
Em média as mulheres sangram até 40 dias após o parto, como tal, é de extrema importância dar atenção as grandes perdas sanguíneas.
- Parto vaginal: 500ml de sangue 13;
- Cesariana: 1000ml de sangue 13.
Para que se evite uma infeção, a recém mamã deve ter um cuidado extra com a sua higiene, trocando o penso higiénico sempre que necessário, lavando a região íntima após as necessidades, usando sabonete com o Ph neutro, limpando bem os pontos e não fazendo esforços.
A expulsão de sangue pode ser perigosa se for em excesso, se o sangue apresentar um mau cheiro e se a mãe tiver arrepios ou mau estar. Estes sintomas podem querer dizer que a mãe está a ter uma infeção. Nesse caso contacte o médico ou dirija-se ao hospital.
Flacidez abdominal
As alterações hormonais que levam ao crescimento do útero, fazem com que haja afastamento da musculatura abdominal para que haja espaço para o bebé crescer. O útero, que tem em média 7 cm de comprimento, 60g e uma capacidade de 7ml, no fim da gravidez passa a ter 30 cm, 1000g e uma capacidade de até 5L, fazendo com que os músculos intra-abdominais estiquem ao máximo para suportar o tamanho e peso do bebé.10
Este alargamento faz com que a parede abdominal, após o parto, fique flácida e leve tempo a recuperar, havendo uma diminuta capacidade da contração muscular.
Para que haja uma mais rápida recuperação da forma física pré-gravídica, é necessário iniciar exercícios específicos para os abdominais. Pode também ser recomendado pelo médico o uso de uma cinta abdominal de forma a combater a flacidez.
Incontinência urinária
É normal durante a gravidez e no pós parto, com as mudanças hormonais e com as alterações no ângulo uretrovesical, os tecidos musculares sofrerem transformações que causam desconforto à mãe. Um sintoma recorrente dessas modificações, e muito referido pelas mamãs, é a incontinência urinária.
A incontinência urinária carateriza-se pela perda involuntária de urina e pode ser classificada em dois tipos:
- Incontinência Urinária de Esforço: Há uma perda de urina quando são realizados esforços. Estes podem ser derivados de exercícios físicos ou de tosse ou espirros;
- Incontinência Urinária de Urgência: Quando ocorre perda de urina após uma vontade repentina de urinar;
Esta condição afeta mais mulheres que homens devido à anatomia do sistema urinário e também aos eventos e transformações a que o corpo está sujeito, sendo um desses acontecimentos o parto e o puerpério. Segundo Matida et al. a incontinência urinária em 23% a 50% dos casos manifesta-se pela primeira vez durante a gravidez.8
Quando assim acontece é necessário que a mãe exponha o problema junto dos profissionais de saúde.
Para evitar esta condicionante faça exercícios de kegel, para fortalecer os músculos do soalho pélvico.
Cicatrização
Estima-se que mais de 85% das mães sofram de algum tipo de lesão perineal no parto, seja motivado pela prática dos procedimentos como episiotomia ou pela laceração espontânea dos tecidos.
Quando é realizada uma episiotomia ou há um rasgo dos tecidos, a laceração é mais profunda, sendo necessário uma atenção especial à cicatrização e limpeza dos pontos.
Limpeza e vigilância dos pontos:
- A ferida pós-cesariana deve ser limpa com gaze e uma solução salina fisiológica nas primeiras 48 horas3;
- Os pontos devem ser vigiados para evitar uma possível infeção;
- Manter a região limpa e seca;
- Evitar estar sentada muito tempo e o uso de tampões.
Relação Sexual
Quando a mulher regressa a casa vê-se envolta num novo papel social, o de mãe. O novo estatuto, para além das de diversas alterações diárias e, inclusive, corporais, fazem com que o retorno à vida sexual não seja imediato. Sem precipitações, é importante o parceiro demonstrar compreensão e afeto. É igualmente essencial uma forte comunicação entre o casal para que também o pai não se sinta rejeitado.
Nesta fase, os médicos recomendam que o casal volte a ser ativo sexualmente 40 dias após o nascimento do bebé, para que esteja feita a total recuperação do útero e não haja risco de infeção. As mulheres definem este tempo para repouso e para conhecerem os seus corpos.
No estudo de Enderle et al. as recém mamãs explicitam receios no reinício da toma sexual:5
- Medo de uma nova gravidez;
- Receio de dor no lugar dos pontos;
- Aguardar provação médica;
- Desconforto durante a relação;
- Vergonha do corpo;
- Diminuição da líbido;
- Dificuldade em atingir o orgasmo.
Apesar da intimidade do casal ficar inevitavelmente alterada nos primeiros meses, após o nascimento do bebé, é sempre importante manter o contacto físico, os abraços, os beijos e as caricias. Tenha presente que uma relação sexual não é apenas determinada pelo coito.
A satisfação sexual é mais que o orgasmo.
Referências:
1. Augusto furtado, M. e Maria Szapiro, A. (2016) o lugar do sofrimento no discurso da medicina biotecnológica contemporânea, revista subjetividades. Fundacao edson queiroz, 16(2), pp. 93–104.
2. Camacho, R. S. et al. (2006) Transtornos psiquiátricos na gestação e no puerpério: Classificação, diagnóstico e tratamento, Revista de Psiquiatria Clinica, pp. 92–102.
3. Como deve ser feita a higienização da ferida cirúrgica pós-parto? (2016) atenção primária em saúde. Disponível em: https://aps.bvs.br/aps/como-deve-ser-feita-a-higienizacao-da-ferida-cirurgica-pos-parto (acedido: 23 de dezembro de 2019).
4. Elana, J. (2018) bringing your baby home, kidshealth. Disponível em: https://kidshealth.org/en/parents/bringing-baby-home.html (acedido: 27 de dezembro de 2019).
5. Fátima enderle, C. et al. (2013) artigo original condicionantes e/ou determinantes do retorno à atividade sexual no puerpério, rev. Latino-am. Enfermagem. Disponível em: www.eerp.usp.br/rlae (acedido: 20 de dezembro de 2019).
6. Lopes, G., Leister, N. e Riesco, M. L. (2019) perineal care and outcomes in a birth center, texto & contexto enfermagem, 28, pp. 1–12.
7. Manual de procedimentos: prevenção e tratamento das intercorrências mamárias na amamentação programa aleitamento materno, (1998), pp.4.43.
8. Matida, F. et al. (2019) prevenção da incontinência urinária no puerpério, revista enfermagem atual in derme. Public library of science, 87(25), pp. 2–9.
9. Pedrosa, N. S. et al. (2013) percepçaõ da qualidade de vida no puerpério imediato, semantic scholar, pp. 209–215.
10. Pereira Gadelha, R. (2017) tratamento da flacidez abdominal pós-parto utilizando as técnicas de radiofrequência e corrente russa, repositorio uniceb. Centro universitário de brasília.
11. Saraiva, E. e Coutinho, M. (2008) o sofrimento psíquico no puerpério: um estudo psicossociológico, revista mal-estar e subjetividade, junho, pp. 505–5028.
12. Schmidtb, M. e Bonilha, A. (2003) alojamento conjunto: expectativas do pai com relação aos cuidados de sua mulher e filho, revista gaúcha de enfermagem. Porto alegre, 24(3), pp. 316–324. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/revistagauchadeenfermagem/article/view/4479/2418 (acedido: 27 de dezembro de 2019).
13. Silva e Silva, V. (2016) cuidados de enfermagem com a mulher no purpério, biblioteca virtual em saúde. Porto alegre.