A toxoplasmose é uma infeção causada pelo parasita Toxoplasma Gondii, afeta um terço da população mundial e pode ser encontrado em todas as partes do mundo, com maior incidência em países não desenvolvidos.3
Acredita-se que a prevalência se deva a fatores climáticos e a práticas culturais, como a presença de gatos em ambiente doméstico ou climas húmidos e quentes, onde há facilidade de propagação.2
A infeção pode ocorrer pelo contacto direto com animais infetados, ou através da ingestão de alimentos ou água contaminada com uma das formas infetantes do parasita, os oocistos.
Os oocistos são produzidos nas células intestinais e excretados nas fezes dos animais infetados. São altamente resistentes, podendo permanecer no meio ambiente por mais de um ano, fazendo com que a disseminação seja difícil de controlar.3
O que é a toxoplasmose?
O parasita Toxoplasma Gondii é um agente patogénico, intracelular, que infeta o sistema nervoso central. Existem três estágios no ciclo de vida do parasita:
- Esporócitos: encontrados nas fezes dos gatos;
- Taquizoítos: fase aguda da doença;
- Bradizoítos: nos cistos teciduais.4
O ciclo de vida do parasita Toxoplasma gondii começa no intestino dos animais, sendo um deles o gato.
Após o gato ser infetado, inicia-se a fase sexuada da vida do parasita da qual resulta a produção de oócitos que são eliminados pelas fezes.
Posteriormente, três a quatro dias de exposição ao ar, o oócito reproduz-se originando oito esporócitos, que podem permanecer no solo cerca de um ano.
Ao estarem no solo, estes são ingeridos pelo homem ou por outro tipo de animais (aves, roedores, porcos, carneiros, etc.), tornando-os nos hospedeiros intermediários.3
O ciclo de vida fica completo quando os animais ou o homem ingerem quistos tecidulares contidos nos hospedeiros intermediários.
Imunidade à toxoplasmose
A infeção durante a gravidez pode resultar em problemas neurológicos graves. No entanto, no que toca a indivíduos imunes, a infeção é assintomática e mantem-se assim para o resto da vida.3
Como se pega a toxoplasmose?
O parasita toxoplasma Gondii pode ser transmitido por duas vias3:
- Via oral: Ingestão de alimentos (vegetais crus ou frutas mal lavadas) e água contaminada. O homem ingere oócitos ou cistos teciduais em carnes mal cozidas. Quando o cisto é ingerido, a parede do cisto é destruída no estomago e os bradizóitos são libertados. Os brandizóitos são resistentes à digestão, sobrevivendo e iniciando a infeção no intestino delgado;
- Congénita: Da mãe para o filho durante a gestação. A transmissão ocorre quando a mãe é infetada e não dispõe de anticorpos. Os taquizoítos entram na corrente sanguínea, chegando desta forma até à placenta, infetando o bebé.
A fase da gestação em que mulher é infetada é um importante fator, levando a diversas consequências na saúde do bebé. No primeiro trimestre a transmissão é relativamente baixa, <20%, quando comparada com o final da gravidez, em que a percentagem aumenta para 60%.3;8
Sintomas de toxoplasmose
A toxoplasmose é, na maioria das vezes, assintomática para o adulto, contudo se a mulher for infetada durante a gestação a toxoplasmose tende a ter consequências graves para o feto.
Com uma taxa global de transmissão materno-fetal entre 30 a 40%, a toxoplasmose tem uma menor taxa de transmissão no primeiro trimestre, aquando as consequências são mais marcantes.4
Toxoplasmose congénita:
- Aborto espontâneo;
- Morte fetal;
- Morte perinatal;
- Problemas neurológicos;
Em contrapartida, no terceiro trimestre, a taxa de transmissão ronda os 60%, mas as consequências para o feto são menos agressivas8:
- Défices acentuados de visão;
- Hidrocefalia ou microcefalia;
- Surdez;
- Atraso mental;
Toxoplasmose adquirida depois do nascimento (primeiros anos):1
- Coriorretinite;
- Microcefalia;
- Febre;
- Erupções cutâneas;
- Dor de cabeça;
- Cansaço;
- Glândulas inchadas;
Outros sintomas da toxoplasmose:1
- Cefaléia;
- Mal-estar;
- Apatia;
- Sonolência;
- Mitalgia;
- Mudança de comportamento, com duração de semanas, seguindo-se por coma, convulsões, paralisias oculares e transtornos psíquicos.
Toxoplasmose na gravidez
A infeção por toxoplasmose é um problema que causa grande preocupação junto dos pais.
Apesar de ser uma doença ligeira nos adultos é alarmante quando transmitida para uma grávida, podendo causar danos neurológicos irreversíveis no bebé e, até mesmo, morte fetal.
Os gatos são considerados os principais proliferadores desta doença global.
Em média nascem em Portugal aproximadamente 105.000 crianças por ano, pelo que se pode estimar que surjam aproximadamente 441 novos casos de toxoplasmose congénita por ano.
(Martins, 2002)4
Gravidez e gatos?
Na sociedade ocidental os gatos são animais de companhia, que habitualmente se encontram em ambiente doméstico. Talvez pela vida acelerada, pelas rotinas exigentes, a sociedade tende em ter estes animais independentes e de pouca “manutenção” nas suas casas.2 No entanto, esquecem facilmente que estes, tal como outros animais, tem o potencial de contaminar o meio com parasitas.
Os gatos e outros felinos servem como hospedeiros para parasitas como o toxoplasma Gondii, que raramente traz consequências para a saúde dos mesmos, contudo nas grávidas pode levar a graves problemas de saúde, dependendo do grau de exposição do feto ao parasita, da virulência e do período gestacional.
Não é necessário contacto direto com os animais para que ocorra uma transmissão. Devido à longevidade dos oócitos, basta o gato infetado com o parasita colocar as fezes na terra, na caixa de areia ou no chão de casa, e mais tarde alguém tocar naquele mesmo local, para que haja transmissão.
Para que haja um controlo e acompanhamento da saúde do feto, qualquer grávida deve fazer o rastreio de Toxoplasmose!
Como prevenir a toxoplasmose?
A prevenção da toxoplasmose passa, maioritariamente, por bons hábitos de higiene (prevenção primária) como lavar as mãos após mexer na terra, em alimentos crus ou ao trocar a caixa de areia do gato. Para além destas medidas à também que, caso tenha um gato, esterilizar a caixa de areia do animal. É importante não deixar o bicho fazer as necessidades em casa, fora da caixa de areia.4
Outra forma de evitar a disseminação do parasita passa pelo rastreio serológico, de forma a confirmar se os indivíduos estão infetados ou não, as medidas a serem adotadas para que seja evitada a transmissão materno-fetal (prevenção secundária).
Quando o parasita infeta o feto, a preocupação passa por minimizar os problemas de saúde que advêm da infeção (prevenção terciária).4
Tratamento para toxoplasmose
Falemos agora do tratamento para toxoplasmose. A toxoplasmose para a maior parte dos adultos saudáveis, sem quais quer outros problemas de saúde, não reque tratamento.
A doença é assintomática e os adultos com o parasita não sabem frequentemente que estão infetados.3 Se o infetado tiver previamente problemas de saúde que tenham impacto no sistema imunitário, o tratamento geralmente consiste na admistração de um conjunto de medicamentos.
Já durante a gravidez o tratamento é variável, pois há que considerar a toxicidade dos medicamentos para o feto. No entanto, se o médico assim o decidir, pode ser administrada uma combinação de medicamentos.3
Referências
1. Ambrogi, A. et al. (2011) Toxoplasmose: o que o profissional da saúde deve saber, enciclopédia biosfera. Brasil, 7 (12), pp. 1–30.
2. Dabritz, H. A. e Conrad, P. A. (2010) Cats and toxoplasma: Implications for public health, Zoonoses and Public Health, pp. 34–52.
3. Halonen, S. K. e Weiss, L. M. (2013) Toxoplasmosis, em Handbook of Clinical Neurology. Elsevier B.V., pp. 125–145.
4. Martins, C. (2002) Toxoplasmose na gravidez, Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, 18(5), pp. 333–340. Disponível em: http://www.rpmgf.pt/ojs/index.php/rpmgf/article/view/9891/9629 (Acedido: 5 de Dezembro de 2019).
5. Montoya, J. G. e Liesenfeld, O. (2004) Toxoplasmosis, em Lancet, pp. 1965–1976.
6. Pena, H. F. J. et al. (2014) Isolation and biological and molecular characterization of Toxoplasma gondii from canine cutaneous toxoplasmosis in Brazil, Journal of Clinical Microbiology. American Society for Microbiology, 52(12), pp. 4419–4420.
7. Incluir referência: Piper JM, Wen TS. Perinatal cytomegalovirus and toxoplasmosis: challenges of antepartum therapy. Clin Obstet Gynecol 1999; 42:81-96
8. Serrano, M. G. I. et al. (2016) toxoplasmose na gravidez: revisão bibliográfica, connection line, 0(14).
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